quinta-feira, 4 de março de 2010

Quem inventou o mico na frente das gatas?

Quem inventou o mico na frente das gatas?


Tem dias em que tudo é normal. Tão normal, que dá sono e você dorme a tarde inteira, e nem sente remorso. Ou, se sente, se pergunta: “Puta que pariu, quê que eu tô fazendo da minha vida, meu? Mais uma tarde perdida pra preguiça, ou a vida que tá um marasmo mesmo?”
Bom, o fato é que o dia está alguns milésimos de segundo mais curto, e isso nos dá menos tempo para curtir as coisas legais que o mundo tem a nos oferecer. Tipo, esta quarta-feira, em que escrevo este texto, com o notebook no colo. Tô cansadão, pois o dia foi 'daqueles'. E não posso dormir ainda, pois tenho de terminar um trabalho da facu. E enquanto meu trabalho passa na Tv, com o volume no zero, pra não atrapalhar esta minha escrita, eu relaxo, enfim, e relembro o que passou. Contrariando tudo que falei de marasmo, preguiça e tédio. Só que tem coisas que realmente nunca mudam. O sono e o pitoresco, por exemplo.
Acordei às 4:30. Foi paranóia minha. Eu queria chegar cedo na facu, tinha planos (sonhava que a anjinha que conheci no final de semana me desse um sinal de vida e que pudéssemos marcar alguma coisa) e não estava afim de encarar o busão lotado. Mas, como o sono é sempre a minha maior virtude, preferi deixa meu celular tocar a música dos Raimundos até as 5 horas mesmo, para aí levantar e seguir minha rotina.
Quando saio do banheiro, após meu banho (não fiz a barba, contrariando meus planos da noite anterior), vejo o celular tocando. Atendo. Ligação a cobrar, de um número desconhecido. “Será minha anjinha, querendo marcar alguma coisa?” Mas, pô, eram 5:30, véi... Minha anjinha não faria isso, me ligar a cobrar antes das 6... Decido pelo óbvio: retornar a ligação.
Para desfazer minhas esperanças, era só minha amiga Maluca, da facu. Com uma proposta também maluca. Queria que eu fosse seu motorista por um dia. A levar pra facu, depois em casa ao meio-dia e levá-la ao trabalho por fim. E depois disso, o carro dela (dela nada, do ex-marido dela. Eles ainda moram juntos) seria meu até a noite. Topei na hora.
É uma maravilha, andar de carro no meio daqueles ônibus lotados, dando 'tchauzinho' para os 'babacas' que, ansiosos, esperavam conseguir entrar nos infinitamente lotados busões.
Chegamos na facu, encontro logo minha amiga Loira. “Gata, tô de carro hoje... E aí?” E aí, que ela tratou de marcar um cinema com uma amiga Ruiva e me escalou pra ir também. Guardem essa informação.
Lá, primeiro mico na frente das gatas do dia: enquanto 'mato o tempo', como diz meu pai, na sala do Diretório Acadêmico, sento numa cadeira e, durante o papo (falávamos sobre Maconha, acreditam?) e no meio das muitas brincadeiras, minha amiga Mesopotâmia (lembram dela?), que eu já venho assediando há uns dias, sem sucesso, passa por trás de mim enquanto eu me espreguiçava. Durante o processo de esticamento do corpo, tento agarrar a cintura dela. A moça, que de besta não tem nada, e que já está ligada, muito provavelmente, do lance do jogo do 'quem beija mais', que tá rolando nos corredores, me esnoba e me puxa, levemente. Fui na dela e caí no chão feito uma manga madura. Flashes e mais flashes. Todos tiraram fotos de mim, estirado no chão, rindo da minha desgraça. Bem feito pra mim. Estava precisando levar uma dessas. E seguem mais micos, para garantir a história do dia.
Passa a aula, temos a sessão do cinema da Faculdade, que vale como atividade complementar. Tocamos o terror, eu e alguns amigos (entre eles, a Maluca), fazendo bagunça na salinha do cinema, a ponto de eu, simbolicamente, tirar minha roupa de baixo (minha cueca, pô!) e girá-la no ar, para o delírio das novatas (gatinhas, também, por sinal) que riam de tudo, do outro lado da sala. Saímos chorando de rir, e com um certo receio de sermos penalizados pelo péssimo comportamento (velhos e bons tempos de escola...)
Levo a Maluca pro trabalho, passo em casa, como umas besteiras pelo caminho, fico ensopado de suor neste meio tempo, e enfim chego no shopping onde a Loira me aguardava com sua amiga Ruiva.
Aqui é só pra ressaltar que eu sou louco por aquela Loira, linda e simpática. O cheiro dela me deixa doidão, e o sorriso dela é como a luz do sol invadindo meu quarto pela manhã. A Ruiva também não fica muito atrás. Linda, simpática. Chorona, verdade. Mas muito romântica e carinhosa. Adorei conhecê-la.
No cinema, as meninas escolhem o filme. Vemos um de uma menina que morreu e só se libertou deste mundo quando deu um beijo fantasmagórico no pretenso galã, enquanto o enredo girou todo em torno do assassino, que simplesmente, ao final do filme, escorrega no gelo e morre, numa queda idiota, após ter molestado e assassinado muitas crianças. Resumindo, não fossem as companhias, eu teria feito como o coroa que estava na cadeira ao meu lado: dormido nas pernas da menina que estava com ele, a ponto de roncar feito um porco. Lindo e romântico. O ronco, não o filme. Não percam seu tempo e seu dinheiro com ele. A menos que tenha uma loira e uma ruiva pra te acompanhar.
Termina a sessão terror, ligo para o dono do carro e informo que vou atrasar um pouco a entrega do carango. Não iria perder a chance de levar as gatas pra casa e descolar uns amassos a mais. Desço de mãos dadas com a Loira (o melhor momento do dia. Tanto por isto – sair de mão dada com a gata – quanto pelo que se segue) até o estacionamento. Tiro o carro e talz, dou a volta, entro na avenida e... Percebo que passam das 7 da noite e os faróis estão apagados. “Ôpa! Como liga este bagulho?” Dá pra imaginar o mico. É sempre assim. Vida de Playpobre: quando sai de carro, descola DUAS GATAS, o que acontece? O carro é emprestado e o imbecil esquece de perguntar como LIGAR OS FARÓIS. Puuuuta que pariiiiuuuuuu!!!
As meninas riam histéricas dentro do carro, observando meu desespero, parado no acostamento, ligando para o dono do carro, ao som de Ivete Sangalo (‘quando a chuuva passar, quando o teeempo abriirr... Abra a janeela e veja eu sou o soool...’) . “Papito, como liga os faróis?” Ele também não perdeu a chance e riu de mim feito uma hiena descontrolada, ao telefone.
Passado este desespero (o cara, depois de se recompor, me ensina a ligar. Era só girar um botãozinho, do lado esquerdo inferior do volante. Como é que eu ia saber? Tava tudo escuro dentro do carro, pô! Não dava pra ver!), levo as gatas às respectivas casas (mega escondidas, por sinal. Acho que cheguei até a sair da cidade, aquilo já era zona rural, saca?) e me mando. Voltando, percebo que esqueci meus telefones celulares com a Loira. E lá vou eu, voltando, pra pegar os cels... Quando chego, após ser bem recepcionado pelo pai dela, um cara super simpático que sorri feito uma pedra, pergunto pelos aparelhos. Ela havia deixado no lixeirinho atrás da cabeça do banco do motorista. Legal. Voltei de besta. Pego os celulares, ligo pro dono do carro, marco o horário (dali a meia-hora) e sigo ao lugar marcado.
No caminho, rodei um bocado e quase fui parar numa das praias mais procuradas da região metropolitana. Após uns bons muitos metros, acho o retorno e volto pel avenida, limpa feito um tapete, rumo à churrascaria onde estava meu amigo, para lhe entregar o possante.
No caminho, me vejo escrevendo este texto. Do nada, começo a rir e a pensar no que fiz o dia todo. Já passavam das 8 da noite. Tiro as mãos do volante. Canto junto com Renato Russo, no som do carro, que segue 'na banguela', a cerca de 100 por hora. Agradeço a Deus; rodando feliz, no carro dos outros, após ter descolado duas gatas, ter feito muita bagunça na facu, e sem ter dado satisfação a ninguém. Que vida boa.
Chego na churrascaria, entrego o carro, atravesso a avenida e pego meu bus, de volta pra casa. De volta à velha vida. Chego em casa, banho e jantar. E vim escrever isto aqui. Pois amanhã, será outro dia. Vai que alguém me liga de novo, às 5:30, me oferecendo o carro por um dia... Ou vai que minha anjinha lembra de me ligar e marcar qualquer coisa pra nós dois... Enfim... Vou dormir. Boa noite. Se beber não dirija. Se for pra dirigir, me chame. Mas me ensine a ligar os faróis, pelo amor de Deus!